domingo, 27 de março de 2011

As horas do Planeta



No gris sábado (26) de ontem, fomos convocados globalmente a participar da chamada A Hora do Planeta, ato simbólico promovido no mundo todo pela Rede WWF, antiga organização não-governamental criada em prol da natureza.


A proposta é a de que governos, empresas e a população demonstrem preocupação com o aquecimento global, apagando as suas luzes durante sessenta minutos (das 20h30 às 21h30) para assim vermos 'um mundo melhor'.


Casas, empresas, cidades. A adesão poderia ser pública, já que cidadãos e esfera pública ou privada poderiam cadastrar a sua participação no site do evento, numa listagem aberta a todos e que em 2010, contabilizou mais de um bilhão de pessoas em 4616 cidades, em 128 países, que optaram ao breu. Porto Alegre estava lá.


Comentei no twitter, que não iria me apagar na ocasião. A palavra correta não seria boicote. Não, não pense que me importo lhufas ao tema. Bem ao contrário. Minha preocupação ao tema é inclusive bem superior a média. E não é trova para pagar de bacana, é fato. Mais que isso: é ato! E ato inserido no meu cotidiano, em minha casa ou fora dela. A minha Hora do Planeta é 24 horas por dia, 365 dias no ano: reciclo e o faço por materiais, não só não misturando o orgânico do restante que exige tempo, paciência e logística e para alguns ainda exige espaço para esperar o dia da coleta seletiva, que em diversas regiões acontecem apenas uma vez por semana; faço compostagem, aquela mesmo de enterrar a coisa eca, e isso por vezes enche o saco, mas sigo firme. Tento o possível para evitar o desperdício da água, e aqui tenho algumas manias estranhas até, mas que ajudam. Minhas lâmpadas são econômicas, mais caras, assim como muito dos recursos nos disponibilizados em favor da causa. Acumulo roupa para lavar, e não raro aquela blusinha está indisponível no meio do monte aguardando sua hora chegar. E nunca, jamais sperdiço comida, e isso desde piá. Meu banho é curto, e não adianta me propor a ficar mais, não consigo, é automático.


E automático deveria ser. Por isso não aderi a coisa toda. Por mais positiva que seja a iniciativa envolvendo uma baita massa, me soa um tanto hipócrita a situação de saber que vivente está engajado no evento indo na onda e que esta uma hora é para muitos seu único ato positivo e que em todas as milhares de outras horas do ano não colocam uma efetiva mão na massa.


Considero o twitter uma ferramenta potencial, útil se bem usada e voraz. É rede social, e tal qual, fomenta a incrível capacidade de auto-promoção dos @'s. Promover-se e exibir-se é da natureza do homem, mas aqui cuidadosos e criativos tuites fazem a felicidade de vários que podem parecer melhores em uma realidade paralela, recheada de bons e corretos. A probabilidade de uma revelação da vida como ela é, é rara. Quem já viu em alguma timeline algo do tipo 'hj fui grosso com meu colega'?


O comentário postado gerou alguns retornos com uma esfera de incredulidade sobre a minha opção de não adesão à função. É o ônus do bônus em optar manter meu 'eu' também aqui na www, principalmente em redes sociais, já que a minha intenção em estar nelas não tem nada a ver com a tentativa em parecer alguém que não eu. Eu mesma. Com minhas crenças e opiniões. Que obviamente podem não ser as mesmas de outros seguidores. A democracia e liberdade de expressão, junto a minha educação e percepção de que cada cabeça uma sentença, permite que eu receba e absorva feedbacks contrários. Prefiro assim.


O comentário fez seguidor querer me lembrar da minha função como comunicadora em compreender a relevância de fomentar uma discussão mais ampla e profunda. Caríssimos, em momento algum excluo tal importância do dito manifesto, o qual considero total relevante e pertinente e de uma necessidade ímpar. Questiono sim seu uso como moldura momentânea e reafirmo preferir a postura ampla, não momentânea. Porto Alegre aderiu? Alguns sim. A cidade constava na listagem de adesão, mas o Baile da Cidade aconteceu. Postura ampla seria recorrer a alternativas para uma participação completa. Caro, mas sincero.


Vou sempre posicionar-me contra qualquer atitude que aborde o sócio-ambientalismo como plus raso dada a forma como se tem sido utilizado o tema. Sou preocupada e engajada, mas não apaguei minhas luzes. Não tuitei que estava no escuro e depois saí jogando lixo no chão. E se alguém quiser aderir ao Planeta, lembra que cada dia tem 24 horas, todos os dias.


Câmbio. Desligo.

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